Letras - Por Fausta Pires
Imagem gentilmente cedida pelo escritor e amigo Nilson Denadai |
Fausta realizou não creio que um sonho, mas sim uma curiosidade, de ir como escritora à Bienal do Livro/RJ pelo Projeto Leitura Viva a qual era uma de suas escritoras integrantes.. Essa foi sua última aparição em público. Embora não se sentindo bem, privou da alegria contagiante de quem a ouvia declamar.
Bem, já que sempre que podia com total liberdade de uma confidente e também aquariana, com exortações, questionamentos e segredos. Dizer que sinto tua falta, não só do perfume, da inteligência e também, das broncas quando a chamava de "tesão da minha vida".
Descreverei aqui seu texto auto-biográfico na trajetória do seu multiverso literário.
Letras
Quando surgiu à sua frente a primeira letra, desenho feito por sua mãe que pouco sabia delas, mas adivinhava, por instinto, o seu segredo e quis transmití-las com humilde firmeza, presentando-as, uma a uma, como pequenas jóias, portais sagrados se abriram para desvendar mistérios infinitos.
Houve um formidável descortinar, descobriram-se novas terras repletas de imagens. Um novo Mar Vermelho de abriu para dar passagem ao destino e das profundezas do espírito fez-se a luz. A nova faculdade surgiu na mente infantil. O desbravar, o encontro com outras almas , o contar de histórias e, sobretudo, o viajar por mundos desconhecidos e conhecer sua essência.
De pequenas revistas aos livros, curtos passos. O mergulho na imaginação dos poetas, outros passos. As árvores dão flores, frutos e fortes ossos para o bem dos homens. Os livros são o ensejo de conhecê-los pela sua carne e seus crimes.
Foi entrando pelos livros que a menina descolorida e simples fez viagens fantásticas. Conheceu cavernas paleolíticas, conviveu com os animais pré-históricos. Fez a viagem histórico-geográfica com Heródoto e deitou na cama do gigante; assistiu com Homero o cerco e a queda de Tróia, chorou a morte de Agamenon e o regresso de Ulisses à Ática. Chorou por Cassandra, a incompreendida.
No Oriente Médio esteva na côrte de Nabucodonosor; contemplou os jardins de Semíramis. Com Abraão partiu de Ur para a terra prometida aos escolhidos, promessa de Deus antes encontrada no Egito, na fé angustiada e lírica de Akenaton.
Na Grécia entrou em contato com os deuses e suas lendas que civilizaram o Homem dando-lhe sentido estético e culto da beleza e das artes, da cultura, do amor e da morte.
Cavalgou com Átila e Gengis-Kan, contemplando suas conquistas, criação e fim de cidades. Fundação de nova Era entre crimes mostruosos. Participou do exército do jovem Alexandre conquistando o mundo com ele.
Nas lendas de Arthur conheceu a magia, a aventura, o poder celta, o desabochar da Idade Média, Heróis da cavalaria e um novo modo de vida, das trevas para a luz.
Viu Tarquínio - o antigo, fundar Roma e trazer da Grécia sua cultura para a Itália.
Assistiu a conquista dos Césares, o esplendor e o fim do Império sob a égide de novo cristianismo florescente, forte e definitivo. Participou das Cruzadas da nova fé da maldade; viagens de ambição e lutas, mudando o Oriente, criando e destruindo impérios e tornando a face da Europa uma máscara fanática e cruel para a confirmação de uma religião insegura que criou seitas, organizações misteriosas, mistura de fé, terror, domínio e loucura que deturparam as palavras de Jesus Cristo.
Discutiu com Shakespeare os destinos dos amantes, a inútil rvolta de Hamlet. Não adiantou; para este escritor a morte é prêmio e glória para seus personagens.
Com Dante percorreu o inferno à luz de velas com Virgílio e Beatriz. Viu Milton perder o Paraíso e Cervantes enlouquecer seu cavaleiro de triste figura.
Mergulhou no poço sem fundo das letras, que vai do profundo ao infinito das estrelas mais distantes, onde Deus e o Diabo se misturam sem fronteiras, na confusão das idéias e das criatividades mais e mais exporadas e sem fim.
Aprende-se a ler, criam-se as palavras. Enígmas, signos, símbolos, quebra-cabeça, para se criar a verdade e a mentira, a treva e a luz.
Quantos livros leu depois que as letras entraram na sua vida? Não saberá nunca! Sentada numa cadeira, deitada, recostada, viajou mais do que todos os viajantes juntos.
Entre o A e o Z decifra-se o segredo da vida desvenda-se o mistério do idioma mais difícil, da magia mais perigosa e perfeita. Porque a palavra é vida e morte, céu , terra e inferno; luz, dor, alegria, sonho, amor e poesia.
Fausta Pires
Marcadores: 22 de setembro, Barra de São João, Fausta Pires, Poetisa e Escritora
1 Comentários:
Saudade...
Por Daniele Negreiros, às 27 de setembro de 2011 às 04:33
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