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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CiviLizAção

Você sabe onde fica a Galiza?


A Galiza é um território junto ao norte de Portugal, próximo a Trás-os-Montes, onde nasceu a nossa língua. É a Pátria Mãe (ou Nai, em galego) de nossa Língua Portuguesa. Rica em tradições que remotam a constituição do homem ocidental, a Galiza possui um povo com espírito guerreiro, constituído a partir da cultura céltica, com enormes vínculos com entes naturais e sobrenaturais que habitam o seu imaginário e os seus bosques druidescos.
É um lugar onde se respira magia, poesia, beleza e tradição. A cidade de Santiago de Compostela é na Galiza. É uma nação estabelecida por poetas (Rosália de Castro, Eduardo Pondal...) que lutaram pela prevalência de uma identidade cultural galega, da língua galega, contra toda a tentativa de sufocá-la. Por razões histórico-políticas, seu território foi anexado à Espanha que desde há quinhentos anos tem buscado anular a identidade cultural do povo galego, obrigando-os a ortografia e ao falar do castelhano. Mas, fato surpreendente para nós brasileiros, este povo sempre resistiu às pressões, nunca abandonou sua identidade galega, mesmo se espalhando pelo mundo. Um povo que tem memória e que resiste galhardamente às proibições de que se falem a língua materna, o Luso-Galaico (bastante similar ao nosso português).

Recentemente foi constituída a AGALP – Academia Galega da Língua Portuguesa, com o decisivo apoio da ABL, através do acadêmico brasileiro Prof. Dr. Evanildo Bechara, nosso maior lingüista. Os galegos têm promovido manifestações a favor da Democracia Cultural, da cidadania liguistica, manifestações estas que tem sido duramente reprimidas pelo governo espanhol, que nesta matéria parece usar os métodos e argumentos de seu passado franquista. Imagine você, brasileiro, se lhe fosse proibido falar em seu idioma? O que você sentiria? Esta é uma causa de caráter humano, cultural e democrático, a qual vale à pena abraçar.

Ricardo Sant’Anna Reis, sociólogo e poeta. (por e-mail)



Saiba mais sobre esta nobre luta cultural 

(Carta escrita em galego pela poeta Concha Rousia, membro da Academia Galega de Letras Portuguesas, e uma das líderes do Reintegracionismo, que luta por fazer a Galiza membro efetivo da CPLP – Comunidades de Países de Língua Portuguesa).

“Nosso pais chamava-se Galaecia (de Gallaecia ou Callaecia, em Latim, Terra dos Kallaeci ou Calaicos). Com povoamento continuado desde antiguidades fabulosas já existia como território diferenciado quando os romanos, no século II antes de Cristo, procedem a sua integração e impõem o Latim. É um território singular reconhecido na Europa desde a Idade do Ferro, ainda que existam testemunhas arqueológicas a certificarem o seu povoamento desde o Paleolítico Inferior, e como parte já desde a Idade do bronze da Área cultural atlântica, conformada pelas costas Ocidentais e ilhas européias. Nomeada como província do império Romano na sua extensão original desde a Divisão de Dioceclano (298) respeitada durante muito tempo, enquanto esse império ocupava o resto da península, e grande parte da Europa. Constituída como Reino Independente polos Suevos (em 409) foi um dos primeiros estados da Europa. Integrado em 585 à monarquia visigótica recupera a sua identidade com a chegada dos árabes a Hispânia (711). Motor militar e econômico do Ocidente da Península ibérica, o Reino da Galaecia tinha como língua a mesma que segue a ter, e que na altura se chamou galego e que internacionalmente se conhece como Português. A nossa língua foi desde o seu nascimento a língua nai de poetas, os Provençais afirmavam que apenas se podia trovar numa quantas línguas: Provençal, Francês, Galego, Toscano e Siciliano... E há quem diga que a língua Galega foi a que influenciou a língua da Provença e não a inversa... há quem diga também que o celebre poeta Dante Alighieri teria escrito originalmente o seu clássico “A Divina Comédia” em galego. Como quer que fosse era língua de cultura e poesia. As vicissitudes da história (escrita não por nós e mal contada) fizeram com que aquele reino se partisse em dous, ficando separados para sempre, com o tempo e as alianças a parte que é a Galiza atual, foi ficando mais é mais ao serviço dos interesses de Castela, quem usurpou o seu protagonismo histórico e sempre se encarregou de a castigar. Primeiro fazendo ir a menos a menos a sua população que era muito numerosa, e depois controlando os seus recursos... até o dia de hoje. As normas impostas desde Castela desde há 500 anos foram fazendo com que a gente perdesse a sua escrita. A nossa língua foi então língua falada sem escrita. Mas sempre houve nos espaços cultos um elo nacional e elementos transmissores da língua, especialmente desde meados do século XIX num processo de recuperação que chamamos "Rexurdimento" que provocou uma aceleração político e cultural nas reivindicações lingüísticas e nacionais que chega até a Guerra civil espanhola (1936-39) e onde abrolham os nossos mais importantes vultos literários (Rosália de Castro, Manuel Curros Enriques, Eduardo Pondal, Daniel Castelão, Otero Pedrayo, Vicente Risco). Após uma brutal repressão (fuzilamentos, processos judiciais, depurações, exílio) nos anos da ditadura franquista do 1939 até 1975, nossa língua era proibida mesmo na sua forma oral.

A nós se nos castigou duramente nas escolas, com castigos físicos até, para que abandonássemos a nossa língua e falássemos apenas o castelhano. Mesmo assim, a nossa cultura deve ter tal força que nunca conseguiram que a gente deixasse de falar. Embora aos poucos a gente vai cansando e muitos, a cada vez mais, nos últimos 20 anos passamos de um 90 % de falantes a talvez um 70 %. O último como que agora nós atacam é a defesa dos falantes de língua castelhana que moram na Galiza. Desde finais dos anos 70 que morre o ditador Francisco Franco, permite-se-nos falar e escrever na nossa língua mas com muitos atrancos, e com muita discriminação, a dia de hoje há pessoas que são despedidas dos seus empregos por utilizarem a nossa língua, outros é-lhes exigido que falem apenas castelhano com o público e com os companheiros de trabalho.

A ortografia que escolheram os governantes no seu dia, desde que se nos permite escrevê-la, foi a do castelhano, uma aberração do ponto de vista lingüístico e mesmo histórico. Mas há também quem pense que eles não queriam que a língua se relacionasse com a de Portugal nem do Brasil e criaram uma ortografia que chamamos de norma Instituto da língua Galega/ Real Academia Galega, mas que é um engendro terrível que faz é desvirtuar e ir afogando a nossa riqueza lingüística e fazer com que o galego a cada dia se pareça mais com o castelhano, e vá sucumbindo. Não vou pôr nome a isto, a história se encarregará de fazer.

Com as políticas feitas desde Madrid, com 10 canais de televisão a falar em castelhano (na nossa língua apenas 1) e as TVs de Portugal a dia de hoje proibidas (por Espanha) no nosso território, enquanto em Portugal sim que podem receber a TV da Galiza e todas as TVs espanholas) com jornais, e com os cinemas e demais todo em castelhano. A cada dia a nossa língua perde falantes, e perde a sua qualidade e originalidade. Portanto como o numero de falantes de castelhano vai em aumento começam as vozes dos defensores do castelhano que querem limitar ainda mais a nossa língua. Querem o que eles chamam 'liberdade de idioma' para que a gente que não quiser não aprenda galego nem na escola, enquanto o castelhano estamos TODOS obrigados a sabes e usar. De novo, não vou por nome a isto, que a história o faça um dia. Mas que não tarde. Tal como nós o vivemos, estamos sitiados, se não conseguimos ganhar força para a nossa língua ela morre e não tarda. Mas como ganhar força se nós estamos a cada vez mais débeis? Aí é onde entra a Lusofonia, de sempre na Galiza há unha corrente que luta pola integração do galego no português, a dia de hoje os linguistas não poderiam defender outra cousa que não seja que galego e português são a mesma língua, com duas historias muito diversas, mas apenas uma língua.

O nosso propósito é fazer visível a nossa realidade no mundo inteiro porque é de uma grande injustiça histórica o que aqui acontece, e é também um drama humano que haveria que evitar, mas nós sozinhos não podemos. Nós resistimos e resistiremos, mas necessitamos reforços dos nossos irmãos de língua, de nossos irmãos da Lusofonia. É com esse propósito que tem nascido muitos movimentos na Galiza, e tem nascido também a AGLP (Academia Galega da Língua Portuguesa). Se a nossa língua se pode fortalecer nós somos quem se tem que encarregar de conseguir esse fortalecimento.

Por outro lado eu sei que a língua na Galiza, por ter estado isolada, ou mesmo até por isso, conserva léxico e usos que a língua tem perdido no resto dos territórios, por tanto acho que se a língua se perder aqui onde, junto com o Norte de Portugal, está o seu berço, a língua vai perder uma de suas raízes mais profundas e vai-se ressentir, vai ainda padecer mais da já incurável saudade. É por isso que eu acho que é da incumbência de todos os falantes de português, morem onde eles morem, defender a língua na Galiza, pois também a eles pertence.



Eu sei que os irmãos da Lusofonia, dos quatro cantos do mundo, se importam com a nossa língua é por isso que a eles eu, quanto que poeta e contadora de histórias, quero levar estas idéias. Vão nas assas de uma melra que me fala desde o pessegueiro, e que me ajuda a escrever os meus poemas”.

Um abraço meu (minha) irmão(a) brasileiro(a)
Concha Rousia, Escritora, poeta galega e psicoterapeuta.



Se você se sentiu tocado pelo relato e quer ajudar ao povo galego a retomar o direito a livre expressão em sua língua natal, deixe um comentário-protesto a este respeito no site da “Xunta de Galícia”, organismo governamental que compõe o aparato repressivo sobre o povo galego por parte dos Espanhóis.
O link é: http://www.xunta.es/envio-de-consulta-ou-comentario

                                                     
Manipular e proibir as formas de expressões de um povo. Chegando ao extremo de os proibir que falem ou se comuniquem em seu próprio idioma. É no mínimo arbitrário.
Deixo aqui meu manifesto e meu repúdio a tal atitude!
Em pleno século XXI...

Abraço também essa causa!

Jaqueline Serávia

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